14. Escolha do Papa


 
A morte do papa
Assim que um papa morre, a primeira providência é chamar o Camerlengo, que é o chefe do Sacro Colégio de Cardeais. De pé, ao lado do corpo, ele toca 3 vezes na testa do papa com um martelinho de prata e o chama 3 vezes pelo nome de batismo (e não pelo nome que adotou ao ser eleito). Se não há resposta, ele anuncia o falecimento e quebra o anel do Pescador (que o papa usa para lembrar o momento em que Jesus diz a Pedro que ele seria um pescador de almas e no qual está gravado o nome do papa). O Camerlengo também inutiliza o timbre papal (que é a marca da autenticidade dos documentos assinados pelo Sumo Pontífice). E dá início aos preparativos para o enterro e para os nove dias de luto. Ele também vai organizar a eleição do próximo papa.
O conclave
Depois de 15 ou 20 dias, o Sacro Colégio de Cardeais se reúne para a eleição. Essa reunião é chamada conclave. Literalmente, conclave quer dizer "local que pode ser trancado de forma segura". Hoje, além de designar a grande sala reservada para a reunião dos cardeais encarregados da escolha de um novo papa, também significa o próprio encontro. Todos os cardeais devem participar do conclave, mesmo que estejam sob censura, ou mesmo que tenham sido excomungados. Eles chegam dos quatro cantos do planeta. Durante o tempo que durar a reunião (nove dias ou até que a escolha seja feita) ficarão absolutamente isolados do mundo, recolhidos em aposentos especiais, anexos à famosa Capela Sistina, onde o conclave propriamente dito acontece.
Para abrir o conclave, uma missa é celebrada na Catedral de São Pedro. Cada cardeal faz o voto de manter a eleição em segredo e todos rezam para que o Espírito Santo inspire suas escolhas, estando presente nas deliberações. Depois, se recolhem. As salas são examinadas para detectar possíveis microfones, as entradas são seladas, as cortinas, fechadas.
O ritual na Capela Sistina
Na Capela Sistina, transformada em sala do conclave, as cadeiras altas têm um baldaquim de cor púrpura, uma espécie de cobertura. A escolha da cor não é um acaso: púrpura é, tradicionalmente, a cor do luto e também da realeza. O trono do papa é removido. Seis velas são acesas no altar, onde está o cálice sagrado. É nele que serão colocados os votos. Os cardeais adentram a Capela Sistina sem chapéu. As cabeças descobertas e os baldaquinos simbolizam que a autoridade suprema nasce apenas dessa reunião e que não pertence a nenhum deles, individualmente.
Quando não se reúnem na Capela Sistina, os cardeais ficam em suas celas. Cada um toma as refeições reservadamente e cada cela é fechada por um tecido, na cor que simboliza a ligação do respectivo cardeal com o papa morto: púrpura (se o cardeal foi escolhido por aquele papa) ou verde (caso não tenha sido escolhido por aquele papa). Quando não desejam ser perturbados, eles podem fechar a porta, cuja moldura tem o formato de uma cruz em diagonal, conhecida como a Cruz de São André. Os cardeais devem ficar sempre juntos e todos os aposentos são próximos o bastante para que eles sejam permanentemente vistos uns pelos outros.
A votação
O voto é secreto (escrutínio). No passado, um papa era eleito com dois terços dos votos mais um. O Papa João Paulo II mudou essa regra. Hoje a escolha é feita por maioria absoluta, quer dizer: metade dos votos mais um. Duas sessões de votação são feitas a cada dia, uma pela manhã e outra à tarde, por nove dias, ou pelo tempo que for necessário. Cada cardeal deposita seu voto no cálice, sobre o altar. Depois de cada sessão, os papéis da votação são queimados.  Se a votação não foi conclusiva, uma substância química é adicionada aos papéis para que eles produzam uma fumaça negra ao queimar. A fumaça que sai pela chaminé, no telhado do Palácio do Vaticano, é um sinal para a multidão que espera na Praça de São Marcos. Enquanto for negra, significa que a Igreja está sem sua principal figura.
O resultado
Mas, afinal, os cardeais chegam a uma conclusão. O deão, ou o mais velho dos cardeais, pergunta ao novo papa se ele aceita a eleição e por qual nome quer se tornar conhecido. Esse costume vem desde o século 10 e é uma lembrança de que Jesus mudou o nome de São Pedro ao escolhê-lo para chefe de sua igreja. Nesse momento, todos os baldaquinos cor de púrpura dos tronos são levantados, menos o do escolhido.Os papéis da votação são queimados e a fumaça branca avisa ao povo na praça que um novo papa foi eleito.
Habemus papam!
· O escolhido é, então, levado para um quarto ao lado e veste as roupas de papa. Os cardeais prestam a ele sua primeira homenagem. O deão vai até o balcão e proclama: "Habemus papam!" (Temos um papa). E o novo pontífice aparece no balcão para abençoar a multidão.
A primeira ousadia de João Paulo II
João Paulo II, quando eleito, foi além da benção. Surpreendeu a todos, falando de improviso com o povo reunido na praça. Nenhum outro papa, antes dele, tinha falado sobre a eleição. E ousou mais ainda, ao confessar que tinha medo e que precisava da ajuda de todos para realizar sua missão. Foram essas suas palavras:
"Louvado seja Jesus Cristo. Caríssimos irmãos e irmãs, todos estamos sofrendo de dor pela morte de nosso amadíssimo papa João Paulo I. E eis que os eminentíssimos cardeais escolheram um novo bispo de Roma. Chamaram-no de um país longínquo, longínquo...mas sempre assim tão perto pela comunhão na fé e na tradição cristã. Eu tive medo de receber essa incumbência, mas o fiz no espírito de obediência a nosso Senhor Jesus Cristo e na total confiança em sua mãe, Maria Santíssima. Não sei se posso me explicar na língua de vocês...na nossa língua italiana. Se eu errar, corrijam-me. Desse modo apresento-me a todos vocês para expressar nossa fé comum, a nossa esperança na Mãe de Cristo e da igreja e, também para recomeçar neste caminhar da história e da Igreja, com a ajuda de Deus e com a ajuda dos homens."